As melhores músicas brasileiras da década de 1960
Neste post relacionamos as 30 melhores músicas brasileiras da década de 1960, na opinião do Canto da MPB, claro. Ao final do post você confere uma playlist exclusiva que preparamos no Spotify. Mas, antes disso, vamos apresentar um panorama do cenário musical no período.
E se você ainda não viu os posts sobre as melhores músicas das décadas de 1930, 1940 e 1950. Confira aqui!
A história da música popular brasileira na década de 60
Quando contam a história da música popular brasileira nos anos 60, geralmente alguns capítulos ganham mais destaque: Bossa Nova, Jovem Guarda, Festivais de MPB e Tropicalismo.
De fato, são momentos cruciais e que merecem artigos exclusivos aqui no site, porém, quem viveu aquela época sabe que muitas outras músicas tocavam incansavelmente nas rádios (além das internacionais). Entretanto, com o passar do tempo, muitos dos artistas que apareciam constantemente na mídia foram sendo negligenciados na memória. E não é à toa, também, que é aqui que determinado tipo de música passa a ser chamado de Brega. Em outras palavras, é importante frisar que a música brasileira na década de 1960 não se limita aos artistas tradicionais da MPB.
E aqui cabe lembrar mais duas coisas:
- A TV tomou definitivamente o lugar do rádio na vida dos brasileiros já na primeira metade da década de 1960.
- O disco chamado LP (Long Playing) era o principal suporte na comercialização de música.
O legado da década de 50
No final dos anos 1950, a indústria cultural, em nosso país, havia conhecido o advento da música feita para a juventude. O Rock e o Jazz, criados nos Estados Unidos, foram devidamente aclimatados em terras tupiniquins. Sambas-canções, boleros, tangos e até o baião – músicas que eram feitas para o público adulto – envelheceram precocemente.
Os roqueiros começaram criando versões de músicas que faziam sucesso no exterior; e foram muito bem sucedidos. O Jazz, por sua vez, foi ambientado com mais originalidade pelos nossos compositores, o que colaborou para o surgimento de um novo estilo: a Bossa Nova.
A Bossa Nova e sua influência nos anos 1960
Em 1958, João Gilberto criou um novo jeito de cantar e tocar violão, dando às músicas de Tom e Vinícius – que já eram inovadoras – um aspecto revolucionário. O baiano influenciaria, decisivamente, uma série de jovens que ainda nem pensavam em ser músicos, mas que seriam fundamentais no futuro.
Contudo, os primeiros artistas influenciados pela inovação de João Gilberto foram aqueles que participaram diretamente do que ficou conhecido como movimento Bossa Nova.
Todos, quase que em começo de carreira, foram impulsionados pela nova onda. Para citar alguns nomes: Roberto Menescal, Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli, Sylvinha Telles, Alaíde Costa, Sérgio Ricardo e Nara Leão. Mas também artistas com carreiras consolidadas perceberam logo o potencial do novo estilo, como Isaura Garcia e Maysa.
A Bossa Nova também deu fôlego para os artistas do Sambalanço, como Miltinho e a jovem sensação Elza Soares. Além de influenciar o surgimento de nomes como Sérgio Mendes, Marcos Valle e Jorge Ben.
Vozes à moda antiga
Mas é importante frisar que no começo da década não havia só Bossa Nova e suas crias. Muitas músicas ainda faziam sucesso em velhos estilos. Por exemplo, entre 1961 e 62, Nelson Gonçalves foi um dos mais tocados nas paradas com “Fica comigo essa noite”, vendendo discos adoidado. Sem falar nos já consagrados Cauby Peixoto e Ângela Maria (a favorita de Elis), e nos jovens Agnaldo Timóteo, Agnaldo Rayol e Altermar Dutra.
O Samba pede passagem
E o samba continuava com moral. Entre outros figurões, Elizeth Cardoso, por exemplo, seguia fazendo samba de primeiríssima qualidade para a elite. E mais pro final da década estouraram novos nomes como Paulinho da Viola, Clara Nunes, Beth Carvalho e Martinho da Vila.
Mas, sobretudo, despontaram sambistas veteranos como Zé Kéti e um quase esquecido Cartola, que reuniu a nata da boemia carioca em seu bar Zicartola. E isso muito em decorrência do caminho que os jovens bossanovistas seguiram de ultrapassar as barreiras temáticas e geográficas da Bossa Nova, na urgência de fazer uma arte engajada, nacionalista de esquerda. E para isso foram em busca do povo.
Era coerente dar vez e voz a músicos de camadas populares, provindos dos morros cariocas, ou a alguém como o nordestino João do Vale, por exemplo. Dessa iniciativa é que surge o espetáculo Opinião, o primeiro musical que contestou o golpe civil-militar de 1964, e que colocou Nara Leão (depois Maria Bethânia), Zé Kéti e João do Vale juntos no palco, criticando o regime recém instaurado.
Outra consequência dessa mudança de postura dos artistas que vieram da Bossa Nova, e que passaram a ser mais críticos e mais conscientes politicamente, foi o surgimento das canções de protesto. Sérgio Ricardo e Carlos Lyra são os primeiros a se destacarem. Anos depois, viriam, principalmente, os nomes de Geraldo Vandré e Chico Buarque, grandes personagens da era dos Festivais.
Década de 1960 – Uma breve pausa
Aqui já estamos na metade da década. E antes de seguirmos falando sobre os festivais e o surgimento da MPB, cabe relembrar outras figuras.
Dentre os pais da Bossa Nova, o Brasil ficou pequeno para João Gilberto e Tom Jobim, que foram brilhar internacionalmente. Vinícius de Moraes, por sua vez, se juntou a Baden Powell e criaram os afro-sambas. Sobre o rock brasileiro, ele seguiu uma crescente na preferência dos jovens e o principal nome que despontou foi o de Roberto Carlos.
Roberto Carlos e a Jovem Guarda
Roberto Carlos é de longe o artista mais bem sucedido da década de 1960. Em alguns momentos chegavam perto, como Wilson Simonal em popularidade, Elis Regina em influência ou Chico Buarque em tietagem. Mesmo assim, Roberto foi um verdadeiro fenômeno. Em menos de 10 anos, foi de artista relegado pela turma da Bossa Nova a maior vendedor de discos do Brasil e Rei da Juventude, coroado no programa do Chacrinha. Sem falar na aclamação pela vitória no Festival de Sanremo, na Itália, em 1968, cantando em italiano.
Ele já vinha conquistando muita fama antes mesmo de ser convidado pela TV Record para apresentar o programa “Jovem Guarda”. Mas, claro que com a audiência dominical de uma grande rede de televisão, a consagração foi definitiva.
O programa durou de 1965 a 1968, quando Roberto deixou a atração. Erasmo Carlos e Wanderléa dividiam a liderança do programa com ele. Mas outros artistas também ficaram marcados pelas jovens tardes de domingo da Jovem Guarda, como Wanderley Cardoso, Jerry Adriani, Martinha, Vanusa, Leno e Lílian, Golden Boys, Renato e Seus Blue Caps, Os Vips e muitos outros. Sem falar de Ronnie Von e Rosemary, que não eram convidados ao programa, mas se destacavam em outros canais.
Os Festivais de Música Popular Brasileira
A moral de Roberto Carlos era tamanha que ele podia participar dos Festivais de Música Popular Brasileira. Porém, ele precisava dar uma pausa em seu estilo roqueiro e cantar músicas condizentes com o evento. Isso porque os artistas dos festivais abominavam o que era feito na Jovem Guarda, acreditavam que eram uns alienados que faziam músicas meramente comerciais, com forte influência cultural dos Estados Unidos (corresponsáveis pela ditadura).
Os Festivais de Música Brasileira começaram, de fato, em 1965 e avançaram pelos anos iniciais da década seguinte. TV Excelsior, TV Record e TV Globo tiveram um festival pra chamar de seu no período. As competições eram acirradas, agitavam a opinião pública, formavam-se torcidas e consagravam jovens artistas.
Os compositores mais marcantes em seguidas participações dos Festivais foram Chico Buarque, Edu Lobo, Geraldo Vandré, Vinicius de Moraes, Baden Powell, Capinam, Nelson Motta, Dori Caymmi, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Paulinho da Viola, Milton Nascimento, por exemplo. E dentre os intérpretes, houve grandes momentos de Elis Regina, Jair Rodrigues, Wilson Simonal, Elza Soares, Claudia, entre outros.
O Surgimento da MPB
Além dos Festivais, muitos desses artistas participavam de outros programas de televisão, como o Fino da Bossa, liderado por Jair Rodrigues e Elis Regina. Na briga pela audiência, o principal rival era Roberto e a galera da Jovem Guarda.
Foi por conta dessa rivalidade “engajados x alienados” que surgiu a sigla MPB. Afinal, em tese, o que os roqueiros do iê-iê-iê faziam também era música popular brasileira. Mas os engajados procuravam criar uma arte genuinamente brasileira. Moderna, mas atenta às tradições culturais e às raízes regionais de expressão popular do nosso país. Era preciso, então, marcar uma posição, algo que os diferenciasse. Assim, foi surgindo a ideia de dizer MPB, em caixa-alta, como a sigla de um partido político. MPB era sinônimo de Música Popular Brasileira de verdade, com letra maiúscula.
O termo pegou, e, hoje em dia, quando se fala de música popular brasileira, nos remetemos somente a MPB. O que é um equívoco.
Confira também o post “O que é MPB“.
O Tropicalismo
Em termos dialéticos, a síntese do impasse viria com o Tropicalismo. Caetano e Gil, também determinantemente influenciados pela Bossa Nova, lideraram um movimento que pretendia subverter as normas estéticas da MPB tradicional. Tudo sem negar os cânones brasileiros e enaltecendo o papel de João Gilberto. Mas legitimando a obra de um Roberto Carlos, ou mesmo do que era considerado “cringe” (vergonhoso) à época. Incluindo tudo mais que vinha de fora, inclusive da cultura pop norte-americana. Era um acinte, pois pra termos uma ideia, não podia nem ter guitarra num Festival de MPB.
Juntaram-se a Gil e Caetano, Gal Costa, Tom Zé, Os Mutantes (Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias) Capinan, Torquato Neto, Radamés Gnattali, e até mesmo Nara Leão, avalizando as propostas do grupo. A repercussão das atitudes, das músicas e das apresentações/performances dos tropicalistas foi grande. Entre polêmicas e desafetos, não deu tempo de saber o que viria pela frente. Depois do Ato Institucional nº 5, em dezembro de 1968 (o golpe militar dentro do golpe), a Ditadura prendeu Caetano e Gil. Depois eles foram exilados e só voltariam ao país em 1972.
A Ditadura e a Música Brasileira nos anos 1960
E aqui vale falar da participação da Ditadura na música brasileira da década de 1960. Lamentavelmente fundamental para entendermos o período. De abril de 1964 a dezembro de 1969, que é nosso recorte temporal (pois a ditadura duraria até 1985), os militares foram cada vez mais se tornando repressivos e violentos. Multiplicaram-se as músicas censuradas, pois sabemos que a liberdade de expressão é uma ameaça a um Estado de exceção. Por isso, depois do AI-5, muitos outros artistas foram presos ou tiveram de deixar o Brasil sob ameaças.
O processo de debandada dos grandes nomes esvaziou os Festivais, que já vinham perdendo audiência e apelo comercial. Ainda assim, as sementes estavam lançadas e muitos artistas desta geração chegariam ao auge de seu potencial na década seguinte. Mas, daí já é assunto pra outro post.
A tal música Brega
Enquanto isso, havia os outros. Aqueles que não sentiam a diferença entre um regime ditatorial e um democrático. Aqueles não disputavam os holofotes com os artistas engajados, mas que cavavam um espaço na Jovem Guarda. Aqueles que eram ignorados pelas classes média e alta. Aqueles que passaram a ser chamados de bregas e que simplesmente buscavam a fama e o sucesso, Brasil afora, dentro de suas possibilidades. Foi o caso de Waldick Soriano, Sérgio Reis, Reginaldo Rossi, Nelson Ned e tantos outros que se lançaram para o sucesso em diferentes momentos nos anos 60.
Anos Revolucionários
A década de 1960 começara com o Banho de Lua de Celly Campello no topo das paradas, e terminava com Roberto Carlos nas curvas da estrada de Santos. Dois roqueiros made in Brazil. Olhando friamente, poderíamos ter a impressão de que as coisas começaram e terminaram da mesma maneira. E seria um ledo engano, pois foram anos revolucionários e efervescentes que mudaram a cara de nossa música.
Muitos nomes ficaram de foram deste texto, mas isso revela mais as nossas limitações, e não diminui em nada a importância que tiveram na época. Infelizmente, um resumo assim, acaba contendo essa falha.
As 30 Melhores da Década de 1960
Bem, mas agora, finalmente, vamos destacar as músicas que, em nossa opinião, foram as melhores no período entre 1960 e 1969.
- Negue – Adelino Moreira e Enzo de Almeida Passos (1960)
- Samba de uma nota só – Tom Jobim e Newton Mendonça (1960)
- O Barquinho – Ronaldo Bôscoli e Roberto Menescal (1961)
- Influência do Jazz – Carlos Lyra (1962)
- Garota de Ipanema – Vinicius de Moraes e Tom Jobim (1963)
- Mas Que Nada – Jorge Ben (1963)
- Carcará – João do Vale e José Cândido (1964)
- Diz que fui por aí – Zé Kéti e Hortêncio Rocha (1964)
- Trem das Onze – Adoniran Barbosa (1964)
- Opinião – Zé Kéti (1964)
- Arrastão – Edu Lobo e Vinicius de Moraes (1965)
- Samba de Verão – Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle (1965)
- Pedro Pedreiro – Chico Buarque (1965)
- Disparada – Geraldo Vandré e Théo de Barros (1966)
- Canto de Ossanha – Vinicius de Moraes e Baden Powell (1966)
- Como é grande o meu amor por você – Roberto Carlos (1967)
- Domingo no Parque – Gilberto Gil (1967)
- Alegria Alegria – Caetano Veloso (1967)
- Roda Viva – Chico Buarque (1967)
- Sinal Fechado – Paulinho da Viola (1967)
- Ponteio – Edu Lobo e Capinam (1967)
- Travessia – Milton Nascimento e Fernando Brant (1968)
- Divino Maravilhoso – Caetano Veloso e Gilberto Gil (1968)
- Sá Marina – Antonio Adolfo e Tibério Gaspar (1968)
- Pra não dizer que não falei de flores – Geraldo Vandré (1968)
- Nem vem que não tem – Carlos Imperial (1968)
- Aquele Abraço – Gilberto Gil (1969)
- País Tropical – Jorge Ben Jor (1969)
- O Pequeno Burguês – Martinho da Vila (1969)
- Andança – Paulinho Tapajós, Edmundo Souto e Danilo Caymmi (1969)
Foi muito complicado chegar a apenas 30 músicas dos anos 1960. Por isso, abaixo, listamos mais 10 canções que nos cortaram o coração deixar de fora!
- Fica comigo esta noite – Adelino Moreira e Nelson Gonçalves (1961)
- Palhaçada – Haroldo Barbosa e Luís Reis (1961)
- Água de Beber – Tom Jobim e Vinicius de Moraes (1961)
- Chove Chuva – Jorge Ben (1963)
- Balanço Zona Sul – Tito Madi (1963)
- Samba em prelúdio – Vinicius de Moraes e Baden Powell (1963)
- O Sol Nascerá – Cartola e Elton Medeiros (1964)
- Comunicação – Édson Alencar e Helio Matheus (1968)
- Baby – Caetano Veloso (1968)
- Sua Estupidez – Roberto Carlos e Erasmo Carlos (1969)
Ouça a Playlist com as melhores da Década de 1960
E essas foram as 30+10 melhores músicas brasileiras da década de 1960.
Agradecemos a sua visita e esperamos que tenha gostado do post!
Acompanhe-nos nas redes sociais.
Siga o Canto da MPB no Instagram e também a página Canto da MPB no Facebook.
Além disso, conheça nossa série de postagens Quem é Quem na MPB, onde contamos, de modo breve, qual lugar um artista ocupa na tradição da música popular brasileira.
Canto da MPB – A Música Popular Brasileira em primeiro lugar!