Confira abaixo informações e letra da música Agoniza mas não morre, de Nelson Sargento.
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Nelson Sargento foi um bamba lendário, do morro da Mangueira. O típico sambista de raiz. Que nasceu pobre, em 1924, sem perspectivas, e que através do samba, da música, da arte, ressignificou sua vida e seu lugar no mundo.
Aprendeu a tocar violão adolescente, e foi pintor de paredes por 40 anos, mas sempre envolvido com o samba, com a Mangueira, compondo e participando de rodas de samba. Foi amigo de Cartola, de Nelson Cavaquinho, Zé Ketti e muitos outros. Mas foi só aos 55 anos de idade que ele conheceu o sucesso. E foi também depois de um tempo que ele se tornou artista plástico.
Mas antes de estourar, uma música precisa ser feita. E Nelson Sargento contava que um dia ele chegou na casa dele às 2 da manhã, e sua esposa irritadíssima disse: Poxa, falta de consideração me deixar aqui sozinha morrendo. Ele disse: por que morrendo? Você tá doente? Ela indignada respondeu: Você não viu que quando você saiu eu tava agonizando? Daí ele já alegrinho de samba e de cachaça, disposto a perder a mulher, mas não perder a piada, emendou: “Vivinha, como ele chamava a esposa, você agoniza mas não morre, o Nelson sempre te socorre antes do suspiro verdadeiro”. E ela revoltada disse qualquer coisa do tipo, seu sem-vergonha, ainda faz samba com isso?
E foi a partir disso que Nelson Sargento fez as devidas adaptações. E ao invés da Vivinha, o próprio samba passou a ser o agonizante. E aqui cabe dizer que o Samba sempre foi uma inspiração para os compositores. Tanto o samba em si, enquanto fruto de um processo criativo; mas também o próprio processo de criação de um samba é, muitas vezes, utilizado como tema de uma música do gênero.
Tanto que em 1975 a Alcione tinha lançado o “Não deixe o samba morrer” (Edson Conceição e Aluísio). Que começa assim: “Quando eu não puder pisar mais na avenida…” E que é o drama de um sambista que tá vendo que tá chegando a hora de se aposentar. Mas que vai pedir a um sambista mais novo: Não deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar, o morro foi feito de samba, de samba pra gente sambar.
O Nelson Sargento de certa forma dialoga com esse samba, e vai além, transforma o samba no personagem central, meio que criando sua trajetória e seu drama. O Samba é um “negro forte e destemido”, porque é um gênero brasileiro, mas tem raízes africanas. “Foi duramente perseguido” porque houve um tempo que quem estivesse fazendo samba na rua podia ser preso por vadiagem. “A fidalguia do salão”, a que ele se refere, provavelmente tem a ver com o incremento do samba-canção, que de certa forma foi uma elitização do samba tradicional, principalmente durante os anos 1940-50.
E quando ele diz “mudaram toda sua estrutura, te impuseram outra cultura e você não percebeu”, pode ser que ele estivesse se referindo à Bossa Nova, que deu uma roupagem mais jazzística pro samba e que dispensava muitos dos instrumentos de percussão que são fundamentais no samba, como o pandeiro, e sem falar na ausência do cavaquinho.
Mas apesar de tudo isso, o samba nunca morreu. Sempre teve alguém cuidando. E exatamente nessa época, em 1978/79, o samba estava voltando com muita força. Tinha uma galera bem boa fazendo samba: Alcione, Clara Nunes, Dona Ivone Lara, João Nogueira, Candeia… Sem falar de Martinho da Vila, de Paulinho da Viola, e da própria Beth Carvalho.
A Beth que lançou Agoniza mas não morre, no disco “De Pé no Chão”, em 1978. E eternizou os versos do Nelson Sargento. Mas pra fazer justiça, o grande sucesso do disco foi mesmo “Vou Festejar” (Jorge Aragão, Dida e Neoci Dias), “Você pagou com traição, a quem sempre te deu a mão”…
E em 1979, o Nelson lançou, então, um disco solo, aos 55 anos de idade: Sonho de Um Sambista. Que continha, claro, “Agoniza mas não morre”, mas também, “Sonho de um Sambista”, que dá nome ao disco, a surpreendente “Triângulo Amoroso”, a ótima “Falso amor sincero”, a belíssima “Minha Vez de Sorrir”, entre outras.
Pra fechar, o Nelson contou em entrevista que, até recentemente, toda vez que ele recebia um pagamento do ECAD, sempre tinha pelo menos uma execução pra receber de “Agoniza mas não morre” , isso ao longo de 40 anos desde que a música fora lançada. Em resumo, já nasceu clássico!
Ano de Lançamento:
1978.
Gênero:
Samba.
Compositores:
Nelson Sargento (1924-2021).
Gravações Representativas:
Beth Carvalho; Nelson Sargento.
Samba,
Agoniza mas não morre,
Alguém sempre te socorre,
Antes do suspiro derradeiro.
Samba,
Negro, forte, destemido,
Foi duramente perseguido,
Na esquina, no botequim, no terreiro.
Samba,
Inocente, pé-no-chão,
A fidalguia do salão,
Te abraçou, te envolveu.
Mudaram toda a sua estrutura,
Te impuseram outra cultura,
E você não percebeu.
Versão de Beth Carvalho.
Versão de Nelson Sargento
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