Quem é Wilson Simonal – Quem é Quem na MPB

Neste artigo vamos contar um pouco da vida e da carreira de Wilson Simonal. Você também pode conferir este conteúdo em nosso canal no Youtube, conferindo o vídeo “A história de Wilson Simonal em 8 minutos“.

Biografia Wilson Simonal

Quem é Wilson Simonal

Primeiramente, podemos dizer que Wilson Simonal de Castro foi um cantor que nasceu no Rio de Janeiro, durante o Carnaval de 1938 e veio a falecer no ano 2000, aos 62 anos. Simonal viveu o auge do seu sucesso nos 60. E somente durante essa década foram onze LPs, quase a metade do que ele produziria no resto de sua carreira. Suas músicas fizeram muito sucesso e há quem o considere o primeiro pop star negro da MPB.

Além da voz aveludada, ele tinha uma presença única de palco. Entretanto em 1972 ele se envolveu em uma questão policial/judicial que prejudicou sua carreira e fez com que ela entrasse num processo irreversível de declínio. E por isso, ele passou a ter problemas de alcoolismo também. Algumas de suas principais músicas são: Mamãe Passou Açucar em Mim, Vesti Azul, Nem vem que não tem, Sá Marina e País Tropical.

Wilson Simonal

Como tudo começou

A mãe de Simonal era muito pobre, e ela também teve outro filho, Roberto. O pai deles caiu no mundo, e a mãe, Maria, ficou com toda barra sozinha. Trabalhando como empregada doméstica que não permitia a presença dos filhos, ela jogava uma marmita escondida pelo muro dos fundos para que os meninos pudessem comer.

Na idade escolar, Simonal foi colocado num internato, e começou a cantar no coro do colégio. Ele foi crescendo, e entrou pro exército. Sua principal função era ensinar os outros soldados a cantar os hinos nacional, da bandeira etc. Não demoraria muito e seu talento como cantor seria “descoberto” em festas internas. Daí quando ele saiu do exército em 1958, ele sentiu a oportunidade de iniciar a carreira como crooner, cantando nas boates da vida.

Não vai demorar muito e Simonal conhece Carlos Imperial, uma espécie de agitador cultural muito ativo na época, ligado ao rock’n’roll e que passa a inserir Simonal em festas e num meio artístico que ele não tinha acesso. E finalmente, ele vai gravar seu primeiro compacto em 1961.

A Explosão Wilson Simonal

Em tempos de consolidação da Bossa Nova e do crescimento da influência do rock no Brasil (e que depois se tornaria o chamado de iê iê iê), Simonal passa a representar uma terceira via.

Com o tempo, Simonal se liga ao Ronaldo Bôscoli e ao Luís Carlos Miele, e passa a cantar no Beco das Garrafas, em Copacabana. Isso colocou Simonal, definitivamente, no centro dos acontecimentos musicais do Rio de Janeiro, naquele momento.

A partir de 194 ele vai emplacar vários discos de sucesso, como A Nova Dimensão do Samba, e a “franquia” Alegria Alegria que rendeu quatro discos, todos pela Odeon. Além das músicas que citamos acima, vamos também mencionar outros sucessos de Simonal, meio que na ordem, Nanã, Balanço Zona Sul, Meu Limão meu Limoeiro, Carango, Fim de Semana em Paquetá, Tributo a Martin Luther King, Zazueira, Mustang Cor de Sangue, Menininha do Portão, Maquilagem.

Hebe Camargo e Wilson Simonal

Wilson Simonal e o Sucesso

Simonal tinha um repertório muito eclético, pegava clássicos antigos, músicas já de sucesso na época com outros cantores, e tinha um modo de cantar ao mesmo tempo moderno e tradicional. Ou seja, tinha potência na voz, mas optava em manter a mansidão.

Simonal passou a ganhar muito dinheiro e superou a pobreza e o racismo que jogavam contra ele. Junto de Carlos Imperial, deu início ao “movimento” da pilantragem, que valorizava a malemolência brasileira, e também a ostentação desse sucesso. Até porque, essa foi a forma dele lidar com a fama depois de uma vida de privações. Ele fazia uma música cheia de swing e bastante popular, mas se perder qualidade musical, tanto que César Camargo Mariano, trabalhou com ele muito tempo, praticamente no auge, fazendo shows e os arranjos dos discos.

Simonal marcou a história, sobretudo, fazendo a plateia cantar junto – até como forma de esbanjar sua popularidade. E a passagem mais marcante foi quando ele transformou em coro uma plateia de 30.000 pessoas no Maracanãzinho em 1969, na abertura do show de Sérgio Mendes.

Simonal chegou no topo do sucesso no Brasil e também fazia muito sucesso quando excursionava no exterior. Foi e ainda é pra muita gente o maior cantor do Brasil. Cantou chá-chá-chá, bossa nova, rock, samba, samba rock, soul, samba funk, jazz e ainda se virava bem ao piano.

Todo esse sucesso também favoreceu para que Simonal tivesse um programa na TV Record pra chamar de seu, o “Wilson em Si Monal”, que ficou no ar entre 1966 e 67.

A moral era tanta que na Copa de 70 ele foi ao México junto com a seleção, frequentava a concentração, cantava pros jogadores, era amigo deles, e inclusive do Pelé.

Pelé e o cantor Simonal

As razões do declínio de Simonal

Como dissemos, a partir de 72 sua carreira entrou em declínio. E sabe aquela frase: “se melhorar estraga”. Foi o que aconteceu com Simonal.

Ele faturava bastante com a música e com publicidade, mas gastava muito também. Porém, ele acreditava que os prejuízos da sua empresa era porque estava sendo roubado. Mandou todo mundo embora, inclusive seu contador. Acontece que o contador entrou na justiça pra receber seus direitos trabalhistas. Simonal enlouqueceu de vez!

Como ele conhecia uns agentes do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), ele deu um jeito desses agentes interrogarem o contador, que usaram de tortura, óbvio, pra arrancar a confissão de que o contador realmente estava roubando o Simonal. O que não tinha comprovação, mas o contador temeu pela vida da sua família e “confessou”.

Mas, enquanto rolava a tortura, a esposa do contador foi na polícia e disse que o marido tinha sido levado por agentes do DOPS, no carro do cantor Wilson Simonal. A polícia, por sua vez, investigou o caso e descobriu que não havia uma justificativa oficial de segurança de Estado pra que o interrogatório acontecesse nas dependências do DOPS.

O Erro Crucial

Na tentativa de escapar da encrenca, Wilson Simonal se defendeu dizendo que colaborava com os militares, que ele mesmo havia sido militar. E os agentes do DOPS, por sua vez, também disseram que ele era tipo um informante da ditadura. Mas não teve jeito, ele foi preso por alguns dias, pelo que fez com o contador, e depois ficou em prisão domiciliar por mais tempo.

Todo esse processo foi se desenrolando por anos e repercutindo na imprensa. Consequentemente, Wilson Simonal passou a ser identificado como cagueta da ditadura. Em 1976, quando ele finalmente termina sua pena, daí então ele passou a ser boicotado por artistas que colocavam a condição de não se apresentar aonde ele fosse. Além disso, diversos outros profissionais da música e da TV, como produtores e diretores, não aceitavam a presença dele.

Afinal de contas, era um momento brutal da ditadura, em que o todo sofrimento com a violência dos militares ainda estava muito presente. E era mesmo difícil se defender depois de ter feito tais afirmações.

Final Melancólico

Simonal vai passar anos e anos tentando provar sua inocência, justificando suas declarações. Contudo, só vai conseguir mesmo no fim da vida obter um documento oficial que não há registros de colaboração dele com a ditadura.

Mas daí já era tarde. Sua carreira já havia sido prejudicada, sua voz já tinha sido afetada pelo envelhecimento e também pelo whisky (que fazia ele forçar mais psra cantar).

Enfim o líder da pilantragem não teve uma rede de apoio que o ajudasse a superar essa crise. E seu nome foi praticamente apagado da história da MPB.

Simonal Vive

O documentário Ninguém Sabe o Duro Que Dei ,de 2009, co-dirigido por Claudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal ajudou bastante a revitalizar a figura histórica de Simonal.

E além disso, há também biografias disponíveis, Nem Vem que Não Tem – A Vida e o Veneno de Wilson Simonal, de Ricardo Alexandre; e Simonal: Quem Não Tem Swing Morre Com a Boca Cheia de Formiga, de Gustavo Alonso.

Quem também tem feito bastante pra manter vivo o nome de Wilson Simonal são seus filhos músicos Wilson Simoninha e Max de Castro. Que sofreram por tabela com os reveses da vida do pai, mas estão aí no cenário musical com prestígio faz um bom tempo. Simonal faleceu em 2000, como dissemos, decorrente das complicações da cirrose.


Quem é Quem na MPB tem por finalidade demonstrar, de modo breve, qual lugar um artista ocupa na tradição da música popular brasileira.

Portanto, para conhecer toda a história da nossa música em mais detalhes, é preciso recorrer a livros.


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