Neste artigo você confere informações, história e letra da música Disparada, de Geraldo Vandré e Théo de Barros.
No início dos anos 1960, o paraibano Geraldo Vandré, que já vivia no Rio de Janeiro, se envolveu com os jovens artistas do CPC (Centro Popular de Cultura) da UNE (União Nacional dos Estudantes), como Carlinhos Lyra, por exemplo. Vandré e outros artistas passaram a idealizar um fazer musical engajado, crítico, nacionalista etc. Por essa razão começaram a surgir as “canções de protesto”.
Já em 1965, Vandré participou do Festival de Música Popular Brasileira defendendo a canção “Sonho de um carnaval” do jovem Chico Buarque.
E finalmente, em 1966, “Disparada”, uma de suas canções de protesto mais aclamadas, foi consagrada vencedora do II Festival da TV Record, em empate com “A Banda”, também de Chico Buarque. Empate que ocorreu porque a música de Vandré e Théo de Barros era a preferida do público, enquanto a de Chico foi a eleita pelos jurados. Então, por conta do mérito das composições, e para que nenhum deles fosse injustamente vaiado – no caso sobraria vaias para o Chico Buarque -, decidiu-se pela divisão do prêmio.
Geraldo Vandré, a princípio, não gostou da escolha do cantor Jair Rodrigues para defender “Disparada”. Como Jair era conhecido por ser brincalhão e extrovertido, o compositor temia que ele não cantasse com uma postura altiva que a música exigia.
Era importante demonstrar, de modo sério, a tomada de consciência desse boiadeiro que reconhece seu protagonismo no mundo. “Mas o Jair vai cantar esse negocio rindo…”, temia. O fato é que, no fim das contas, a interpretação de Jair com o Trio Marayá foi fantástica, forte e emocionante. E entrou pra história. O cantor foi reconhecido tanto pelo próprio Vandré, como também pelos jurados que o declararam o melhor intérprete do Festival.
Entrevistado na época, Jair afirmou que não havia ninguém melhor que ele para cantar aquela música: “Meu pai morreu no lombo de um burro. Ele era boiadeiro, o velho Severiano Rodrigues de Oliveira. Acho que ‘Disparada’ tem muita coisa a ver com ele”.
Jair Rodrigues gravaria “Disparada” em seu LP “O Sorriso do Jair”, ainda em 1966, na onda do sucesso obtido com a repercussão da vitória no Festival.
Vandré, por sua vez, também vivia o seu auge nesse ano. Afinal, além de ganhar o Festival da TV Record, também foi vencedor do Festival da TV Excelsior com “Porta Estandarte”, e 2º colocado no Festival da TV Rio com “O Cavaleiro”.
Além disso, em 1967, ele apresentou o programa “Disparada” na TV Record.
Ano de Lançamento:
1966.
Gênero:
Moda de Viola (Canção de Protesto).
Compositores:
Geraldo Vandré (1935) e Théo de Barros (1943).
Gravações Representativas:
Jair Rodrigues; Geraldo Vandré; Théo de Barros; Zizi Possi; Yamandú Costa.
Prepare o seu coração
Pras coisas que eu vou contar
Eu venho lá do sertão
Eu venho lá do sertão
Eu venho lá do sertão
E posso não lhe agradar
Aprendi a dizer não
Ver a morte sem chorar
E a morte, o destino, tudo
E a morte, o destino, tudo
Estava fora do lugar
E eu vivo pra consertar
Na boiada já fui boi
Mas um dia me montei
Não por um motivo meu
Ou de quem comigo houvesse
Que qualquer querer tivesse
Porém por necessidade
Do dono de uma boiada
Cujo vaqueiro morreu.
Boiadeiro muito tempo
Laço firme, braço forte
Muito gado e muita gente
Pela vida segurei
Seguia como num sonho
Que boiadeiro, era um rei.
Mas o mundo foi rodando
Nas patas do meu cavalo
E nos sonhos que fui sonhando
As visões se clareando
As visões se clareando
Até que um dia acordei.
Então não pude seguir
Valente lugar-tenente
De dono de gado e gente
Porque gado a gente marca
Tange, ferra, engorda e mata
Mas com gente é diferente.
Se você não concordar
Não posso me desculpar
Não canto pra enganar
Vou pegar minha viola
Vou deixar você de lado
Vou cantar noutro lugar.
Na boiada já fui boi
Boiadeiro já fui rei
Não por mim nem por ninguém
Que junto comigo houvesse
Que quisesse o que pudesse
Por qualquer coisa de seu
Por qualquer coisa de seu
Querer mais longe que eu.
Mas o mundo foi rodando
Nas patas do meu cavalo
E já que um dia montei
Agora sou cavaleiro
Laço firme, braço forte
De um reino que não tem rei.
La laiá lara lara
La laiá lara lara
La laiá lara lara
La laiá lara lara.
Versão de Jair Rodrigues no Festival.
Trecho da Final do Festival da TV Record de 1966.
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