Quem é Gilberto Gil – Quem é Quem na MPB

Caso imaginemos um novo dilúvio nos dias de hoje, por pura fantasia, e a necessidade de Noé acolher em sua arca, além de um par de animais, um músico de cada país, o nosso escolhido seria Gilberto Gil. Nas próximas linhas, então, teremos o compromisso de justificar essa escolha, além de responder a pergunta: quem é Gilberto Gil na MPB?

Quem é Gilberto Gil

Primeiras Referências

A história de Gil é muito interessante. Nascido na capital baiana, em 1942, ele morava, mesmo, na pequena cidade de Ituaçu, e foi lá que cresceu. Ligou-se à música muito cedo, ainda criança, aprendendo acordeom. Só no final dos anos 1950, sob a influência de João Gilberto e a Bossa Nova, é que foi estudar violão. Também é muito cedo que Gil começa a escrever poesia, influenciado pelos cânones pré-modernistas.

Estruturalmente essas são as principais características que acompanharão Gilberto Gil por toda sua vida. Ele é um poeta nato e um músico que persegue os sons. Ele tem raízes fincadas em ambiente rural e arcaico no coração do Brasil, mas uma cabeça aberta e, consequentemente, um ouvido atento para captar o novo e universalmente moderno.

Início da Carreira

Como foi dito acima, Gilberto Gil foi influenciado pela Bossa Nova no início de carreira e isso ficou evidente nas primeiras canções gravadas a partir de 1963, como Serenata de teleco-teco. Mas a sua voz e sua forma de cantar já mostravam personalidade. É neste mesmo ano que conhece Maria Bethânia, Gal Costa e Caetano Veloso na Bahia. Anos depois eles formariam o quarteto “Doces Bárbaros” em um projeto de shows. Caetano, bem antes disso, já o estimava. É célebre a passagem que ele narra, quando Dona Canô, ao ver Gil cantando na televisão, chamava: “Caetano, venha ver o preto que você gosta”.

Mas a música teve de esperar para ser exclusiva em sua vida. Formado em administração de empresas, Gil veio a São Paulo em 1965, inicialmente para participar de um programa de trainee da empresa Gessy Lever. Somente um ano depois ele conseguiria se desvencilhar do mundo corporativo para se dedicar à carreira artística.

Mais uma vez nota-se seu perfil eclético, mesmo sendo funcionário de uma multinacional, estavam presentes no seu imaginário, nas primeiras canções, os trabalhadores pobres e a gente do sertão.

Quem é Gilberto Gil

Um músico-intelectual ligado à sua época, Gil acredita no poder transformador da arte na sociedade, e na necessidade de estar comprometido e engajado neste propósito. A canção, dessa maneira, é um suporte para transmissão de ideias. As reflexões do artista – sujeito favorecido pela sensibilidade com a qual vislumbra o mundo – devem ser propagadas. Ainda que, em diversas vezes, ele caia em devaneios livres e puramente artísticos, sua poesia em grande parte são discursos, argumentações objetivas. Frutos de meditações profundas e a intento de passar uma mensagem. Ele tem necessidade de se fazer entender, apesar de toda sua complexidade.

Músico habilidoso, ele vai atravessar os anos visitando novos gêneros, se atualizando, experimentando possibilidades, revitalizando sua música. Ao longo da carreira ele vai transitar por bossa nova, samba, baião, forró, rock, reggae, pop e tantos outros estilos. Guitarra e berimbau, Bahia e Londres, Ásia e África, masculino e feminino, preto e branco, tudo convive harmoniosamente em seu repertório.

Gilberto Gil Atuante

E isso tudo além de se reinventar enquanto intérprete, performer, agitador cultural e figura pública. Um verdadeiro deslumbre de som e imagem! Porque ele também se esforça para que, além das questões de conteúdo, suas músicas sejam atraentes, populares, dançantes. Afinal de contas, sua vocação também o leva muitas vezes a sentir necessidade de puxar o bloco, levantar a multidão. E até mesmo de se envolver burocraticamente, pois ele foi secretário de cultura e vereador em Salvador, e tempos depois Ministro da Cultura no Governo Lula.

Por tudo isso ele vai estar ao lado de Caetano na formulação do Tropicalismo, um movimento que pretendia revolucionar a cultura brasileira. Gil almejava encontrar o Som Universal! Tomando como referência o avanço obtido com a Bossa Nova, ainda era preciso derrubar muitas estruturas culturalmente obsoletas no país. Em 1967 quando subiu ao palco com a banda de rock Os Mutantes para se apresentar no 3º Festival de Música Popular Brasileira, defendendo a impecável Domingo no Parque, vaias eram esperadas. Mas, pelo contrário, ficou na segunda colocação, o que significava uma grande vitória.

Gil e os Mutantes no Festival de 1967.

Artista Sensível

Em 1968, Caetano e Gil foram presos pela Ditadura, sem acusações que justificassem. Vivia-se um período violentíssimo de repressão que se seguiu ao AI-5. Ao saírem da prisão, ficam meses em liberdade condicional, até serem exilados em Londres, por mais de 2 anos. Obviamente que sua arte só fez ganhar em ecletismo no período em que esteve na terra da Rainha Elizabeth. Tudo se torna inspiração. O mesmo vai acontecer anos depois, quando ele visitar a Nigéria, voltará de lá com as bases para o disco Refavela. Ou ainda quando, após sofrer um assalto à mão armada, aproveitará a experiência negativa para criar a música Pessoa Nefasta.

Disco após disco, show após show, Gilberto Gil vai consolidar seu prestígio e sucesso. Inclusive muitas de suas apresentações ao vivo foram transformadas em discos, justamente por ele se sentir pleno no palco, diante de seu público.

Obras de Gilberto Gil

A Paz, Andar com Fé, Aquele Abraço, Domingo no Parque, Drão, Lamento Sertanejo, Não Chores Mais, Realce, Refazenda, Se eu quiser falar com Deus, Super Homem, Tempo Rei, Toda menina Bahiana, Vamos fugir… Enfim, essa são algumas das músicas de Gil que marcaram gerações.

Alguns de seus principais discos são:

  • Gilberto Gil – (1968)
  • Tropicália – (1968)
  • Expresso 2222 – (1972)
  • Refazenda – (1975)
  • Refavela – (1977)
  • Realce – (1979)
  • Tropicalia Nº 2 – (1993)
  • Kaya N’Gan Daya – (2002)

De volta à Arca de Noé

Por tudo isso, acreditamos que Gilberto Gil seria o melhor representante de nossa música em uma hipotética nova arca de Noé. Porque é um dos nossos letristas mais primorosos, um músico inovador e, ao mesmo tempo, com muita bagagem folclórica, tradicional, popular. Também porque é negro, como a maioria de nosso povo.

Socialmente engajado, progressista, de mente aberta, sem preconceitos. Tem perfil conciliador, diplomático. Ele saberia criar um novo som para um mundo novo, em diálogo com outros músicos de qualquer lugar do Globo. Escolhemos Gil como o melhor representante da nossa música, sobretudo, porque Gilberto Gil é um dos mais talentosos, geniais e, talvez, o mais completo artista da história da música popular brasileira.

Gilberto Gil durante show


Quem é Quem na MPB tem por finalidade demonstrar, de modo breve, qual lugar um artista ocupa na tradição da música popular brasileira.

Mas para conhecer toda a história da nossa música em mais detalhes, é preciso recorrer a livros.


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