Elis Regina é considerada, por quase toda a crítica especializada, a maior cantora brasileira de todos os tempos. Neste artigo, vamos repassar sua trajetória e buscar entender por que ela merece ostentar tal título.
Gaúcha nascida em Porto Alegre, Elis Regina Carvalho Costa também já nascera cantora, em 1945. Tanto que aos 7 anos de idade ela já se predispunha a cantar em uma rádio local. A timidez, contudo, adiou sua estreia em cinco anos. Mas ela não ficou parada, foi estudar piano inclusive, mantendo-se em constante aperfeiçoamento.
Já era um prenúncio do que seria sua vida nos trinta anos seguintes: cantar e aprimorar sua técnica pra cantar melhor ainda. Quando jovem, porém, ela pensava em ser professora. E de certa forma foi, pois em determinado ponto da carreira, qualquer apresentação sua era uma verdadeira aula de canto e interpretação.
Mas antes da consagração, Elis cumpriu devidamente cada etapa que uma cantora de sua época deveria completar, e sempre muito precoce. Aos 12 anos estreou na Rádio Farroupilha, cantando os sambas-canções de então. Aos 15, em 1960, já era considerada a melhor cantora do rádio gaúcho.
Neste período foi conhecendo produtores e se misturando ao meio musical. Aos 16 anos já tinha gravado seu primeiro disco “Brotolândia“, nitidamente voltado para os jovens da época, sendo que a intenção da gravadora era ter uma Celly Campelo pra chamar de sua. Elis tinha de se enquadrar.
Mas à época, o grande sucesso ainda era a Bossa Nova, e os discos seguintes de Elis serão basicamente neste gênero, e também com alguns sambas e sambas-canções. Ou seja, se ela teve de começar a carreira “imitando” Celly Campelo, ela conseguiu se afastar dessa linha comercial, que desembocaria na Jovem Guarda, e à qual ela seria uma ferrenha opositora no futuro.
Em 1964 a família entendeu que pra ela estourar mesmo era preciso deixar o Sul. Quando chegou ao Rio de Janeiro, ela já trazia na mala boas indicações e quatro LPs gravados em estúdio. Quando ela começou a cantar na noite carioca, e consequentemente na televisão, as coisas se aceleraram.
No ano seguinte ela já seria elevada a status de celebridade. Se já não bastasse vencer o 1º Festival de Música Popular Brasileira de 1965, com a música Arrastão, de Edu Lobo e Vinícius de Moraes, seu carisma colaborou para que ela se tornasse apresentadora do programa O Fino da Bossa, da TV Record, ao lado de Jair Rodrigues. Pra completar, ela ainda lança três discos neste mesmo ano, sendo dois ao vivo, um com o próprio Jair, Os Dois na Bossa; outro com o Zimbo Trio, O Fino do Fino, e o terceiro sozinha em estúdio, Samba – Eu Canto Assim. Que pelo título já dá uma ideia da pretensão em redefinir paradigmas.
A partir desse estouro, Elis praticamente se consolida como a grande cantora de sua geração. Liderando, inclusive, uma movimentação ideológica dentro da música popular, que colaborou para instituir as bases do que passou a se chamar MPB. E até o ano de sua morte, em 1982, ela superaria todas as demais cantoras que vieram antes dela, incluindo Carmen Miranda e Emilinha Borba. Sendo que as referências de Elis, quando jovem, eram as estrelas do rádio dos anos 1950, entre outras, Dalva de Oliveira, Isaura Garcia, Marlene e principalmente Ângela Maria, sua favorita.
Além disso, mesmo não investindo na carreira internacional, Elis teve uma grande repercussão nas vezes que se apresentou no exterior. Talvez com o tempo, ganhando mais confiança e com os filhos crescidos, ela se arriscasse a ganhar novos admiradores mundo a fora.
E de fato ainda hoje não surgiu uma cantora como Elis Regina, com seu nível de perfeição. Pois além de ter nascido com vocação pra cantar, ela foi se lapidando, ano a ano. Eclética, performática, obtinha efeitos vocais que a transformavam num verdadeiro instrumento musical (como ela própria fez questão de registrar). Ela colocava seu sorriso no canto, fazia o que quisesse com voz. Abusava das variações de tons, de ritmos, de velocidades, tinha um controle absoluto do vibrato, que a possibilitava florear os sons e praticamente criar uma harmonia vocal. E tudo isso sendo fumante, imagine se não fumasse!
Além da excelência técnica em matéria de canto, Elis também foi melhorando sua presença de palco, conferindo dramaticidade às suas interpretações com consciência cênica. Sempre entregue, expressando no corpo e no rosto o sentido das letras, colocando verdade no que estava cantando, o que a fazia parecer “cantar com a alma”. Belchior ela cantava de um jeito, com um timbre específico, uma postura, um olhar. Tom Jobim ela já cantava de outro, suave, leve, delicada. E assim por diante.
Apesar do sorriso cativante, Elis tinha uma personalidade forte e dava declarações implacáveis. Isso fez com que ela colecionasse alguns desafetos ao longo da carreira. Uma forte crítica que recebeu foi pela radicalização ideológica, como por exemplo, ao não admitir que a guitarra fizesse parte da música popular brasileira, ou mesmo considerando a Tropicália um movimento puramente comercial.
Em contrapartida, muitos artistas são eternamente gratos a Elis. Até porque ela colaborou para impulsionar a carreira de grandes compositores, Edu Lobo e Belchior, já citados acima, compõem a lista com Milton Nascimento, Gilberto Gil, Ivan Lins, Aldir Blanc e João Bosco, por exemplo. Isso demonstra a sensibilidade que ela tinha na seleção do seu repertório, farejava o sucesso mesmo em autores ainda desconhecidos.
Sua morte gerou polêmica, fãs conservadores condenaram a artista que faleceu por overdose, ao combinar altas doses de álcool, cocaína e tranquilizantes. Um vacilo fatal.
Impossível falar de Elis sem sentir certa de tristeza. Pois apesar de não estar entre nós há tanto tempo, ela faz muito falta. Sobretudo, obviamente, para seus três filhos, João Marcello Bôscoli, do casamento com Ronaldo Bôscoli; Pedro Camargo Mariano e Maria Rita, do casamento com César Camargo Mariano.
Mas também pela sua participação na vida cultural do país, pelo seu posicionamento político, pela sua inteligência, suas opiniões. E claro, pelas novas canções que ouviríamos através de sua voz, que ainda tinha tanto a oferecer.
Alguns de seus principais sucessos foram Como Nossos Pais, O Bêbado e a Equilibrista, Alô Alô Marciano, Aprendendo a Jogar, Atrás da Porta, Vou Deitar e Rolar, Fascinação, Tiro ao Álvaro, e Águas de Março.
Quem é Quem na MPB tem por finalidade demonstrar, de modo breve, qual lugar um artista ocupa na tradição da música popular brasileira.
Mas para conhecer toda a história da nossa música em mais detalhes, é preciso recorrer a livros.
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