Quem é Gal Costa

Gal Costa, cantora desde sempre, uma das maiores de nossa música, é uma artista aguda! E não somente por ser soprano e pela alta frequência de sua voz. Mas principalmente por tantas de suas interpretações afiadas, penetrantes, intensas e também por sua presença marcante em cima de um palco.

Gal Costa

Maria da Graça

Baiana, de Salvador, nascida Maria da Graça Costa Penna Burgos, em 1945. Sua grande influência musical foi João Gilberto, pai da Bossa Nova. Assim como foi para Caetano Veloso e Gilberto Gil, que ela conheceu ainda adolescente e com quem manteria uma parceria eterna, sobretudo com Caetano. Mas por essa época conheceu também Maria Bethânia e Tom Zé. E todos acima participariam do show “Nós, por exemplo…”, em 1964, que marcou época no cenário artístico baiano.

Nesse momento, em Salvador, ela ainda era Maria da Graça, Gracinha, Gau para os íntimos… Já era Gal quando lançou seu primeiro disco, Domingo (1967), em dupla com Caetano, e depois no Tropicália (1968). E firmou o sobrenome, definitivamente, no disco de 1969: Gal Costa.

Gal Costa e o Tropicalismo

E se a Bossa Nova de João Gilberto foi fundamental para motivar a tímida Maria da Graça a cantar, o Tropicalismo ajudou a artista a encontrar um novo modo de expressão. Sobretudo depois do Festival da Record de 1968, quando ela representou a canção Divino Maravilhoso, de Caetano e Gil, numa atitude bem rock’n’roll.

Quando Caetano e Gil foram exilados, Gal Costa ficou sendo a tropicalista de maior projeção no Brasil. Foi uma barra pesada pra ela, praticamente sozinha aguentando a pressão, porque muita gente não compreendia e nem aceitava bem as transgressões do movimento. Até de piolhenta era chamada na rua! Tal o nível dos conservadores.

Ainda assim, o saldo foi positivo pra ela. Porque Gal foi se reinventando, ousando, indiretamente criando moda, e se aprimorando na escolha de repertório, diversificando autores. Se sempre cantou Caetano Veloso em seus discos, e quase sempre Gilberto Gil, ela também muitas vezes lançou mão de Roberto e Erasmo – que fizeram “Meu nome é Gal” especialmente pra ela -, e também deu destaque para novos compositores, como Jards Macalé e Luiz Melodia, por exemplo.

E cabe lembrar que nos primeiros anos da década de 70, Gal se tornou uma verdadeira febre na praia de Ipanema, no Rio de Janeiro. As “Dunas da Gal” reuniam uma juventude eufórica, colorida, sedenta por curtição e coisas novas.

Quem é Gal Costa

Gal Fênix

Depois de enfileirar inúmeros sucessos e construir a imagem de cantora prodigiosa, arrojada e sensual. Seu belo sorriso se fechou por algum tempo. O relativo fracasso do disco Cantar, de 1974, idealizado por Caetano – e que nasceu com o intuito de mostrar toda sua excelência como cantora – lhe retraiu, deixando-a reclusa por certo período.

A retomada na carreira se deu num retorno às raízes baianas, revisitando Dorival Caymmi, no bem sucedido disco Gal Canta Caymmi (1976), o que certamente colaborou para que anos depois ela lançasse outro álbum somente com músicas de mais um compositor antigo, dessa vez Ary Barroso, no Aquarelas do Brasil (1980).

Mas também o show Doces Bárbaros (1976) pode ter contribuído para devolver muito de sua confiança. Uma vez que ela voltara a ter a companhia constante de pessoas queridas, que no caso eram Caetano, Gil e Bethânia.

O fato é que Gal terminaria a década de 1970 mais madura, mais reconhecida, mais independente e desfrutando de um estrondoso sucesso, já que seu disco Gal Tropical (1979) vendera mais de um milhão de cópias.

Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa e Gilberto Gil
Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa e Gilberto Gil: Doces Bárbaros.

Consagração de uma Diva

Nos anos seguintes Gal Costa manteria seu nome como uma das maiores divas da música brasileira. É emblemática uma cena do show O Sorriso do Gato de Alice em que ela canta “Brasil, mostra tua cara…” com um tom desafiador, feroz, deixando os seios à mostra. A exibição de seu corpo causou, evidentemente, devoção de alguns e repulsa de outros. Muita polêmica e discursos apaixonados de amor e ódio. E isso é Gal Costa. Era absolutamente impossível passar indiferente à sua figura.

Com o tempo, a timidez foi se transformando em serenidade. Retirou-se de cena por um tempo, para cuidar do filho Gabriel, que adotou com mais de 60 anos. Retornaria com um belo trabalho produzido por Caetano, o disco Recanto, só com músicas dele. E segue ativa, trabalhando com artistas de todas as idades. Comemorando, inclusive, seus 75 anos através de uma live, e contando com uma legião devotada de fãs (que muito contribuíram com este artigo).

Sucessos de Gal Costa

Algumas das principais músicas de sua carreira são: Aquarela do Brasil, Baby, Pérola Negra, Meu nome é Gal, Festa do Interior, Vapor Barato, Divino Maravilhoso, Volta, Vaca Profana, Chuva de Prata, Como 2 e 2, Lua de Mel Como o Diabo Gosta, Folhetim e tantas muitas outras.

Além de trilhas de novelas e inúmeros discos de sucesso, um dos principais momentos da sua carreira foi o show Fa-tal – Gal a Todo Vapor, de 1971,  além do show Gal Tropical (1979) do disco acima citado. E também fazemos questão de destacar o belo momento no show Gal Costa Canta Tom Jobim (1999).

Enfim, sua carreira é belíssima e sua obra é rica em diversidade e gigantesca em qualidade. Assim como outros artistas de sua geração, ela soube ludibriar o envelhecimento. Cada vez mais atenta, forte e sem tempo de temer a morte. Mesmo porque a marca de Gal é reinventar-se, é farejar o novo. E o fato definitivo é que ela fez, desde sempre, e de modo inigualável, o que tinha de fazer nesta vida: cantar.


Quem é Quem na MPB tem por finalidade demonstrar, de modo breve, qual lugar um artista ocupa na tradição da música popular brasileira. Confira mais artigos da série, clicando aqui.

Se você curtiu o conteúdo do Canto da MPB, siga o Canto da MPB no Instagram e também a página Canto da MPB no Facebook.