A Parceria de Erasmo e Roberto Carlos

A Parceria de Erasmo e Roberto Carlos

Neste artigo vamos revisitar a parceria de Erasmo e Roberto Carlos, certamente a dupla de maior sucesso na história da nossa música. Afinal de contas, suas composições foram inúmeras vezes as mais tocadas nas rádios. Este fato, é claro, deve-se sobretudo ao apelo comercial e à popularidade do rei Roberto, recordista de vendas de discos no país. Mas também não podemos deixar de enaltecer o talento, a intuição e a criatividade de Erasmo.

Ou seja, se por um lado podemos tentar apontar as razões do êxito mercadológico, por outro não há como diminuir o mérito de nenhum dos dois pelo potencial das canções.

Tijuca

Erasmo e Roberto se conhecem desde a juventude nos anos 1950. A história deles é bem bacana e merece um breve registro aqui.

Coincidentemente, ambos são nascidos no mesmo ano, 1941. Roberto é de abril e Erasmo de junho, combinação de um ariano com um geminiano. Roberto é natural de Cachoeiro do Itapemirim/ES, e mudou-se na adolescência para a cidade do Rio de Janeiro, mais precisamente, para o bairro da Tijuca. Ali conheceu uma turma que, como ele, também gostava de Rock and Roll, e juntos formaram a banda Os Sputniks. Sempre bom lembrar que outro célebre integrante deste grupo era Tim Maia (ainda Tião Maia).

Eles até engrenaram, mas tempos depois o grupo se desfez justamente por conta da saída de Tim Maia, motivada pela revolta deste com algumas atitudes de Roberto, que tentava seguir carreira solo.

Erasmo e Roberto Carlos

Erasmo Esteves também era do bairro da Tijuca. Conhecia Tião Maia, e toda turma roqueira, desde a infância. E no que nos interessa, era fã de carteirinha de Elvis Presley.

Roberto, por sua vez, estava atrás da letra da música Hound Dog, um dos maiores sucessos de Elvis. Como não a encontrava de jeito nenhum – e não havia internet na época para facilitar as coisas – o amigo Arlênio disse que apenas uma pessoa poderia ajudá-lo: o Erasmo.

Roberto foi procurá-lo imediatamente. A partir disso, descobriram outras afinidades, firmaram amizade e o resto é história! Tanto que, tempos depois, Erasmo adicionaria Carlos ao nome artístico, justamente para formar um “trio de Carlos”, com Roberto e Carlos Imperial, também amigo e produtor.

Erasmo e Roberto, agora amigos, seguiram seus caminhos individualmente, mas sempre em paralelo. Tanto que quando a Bossa Nova pegou de vez, no início dos anos 1960, ambos foram influenciados por ela. E apenas por força do destino é que nenhum dos dois seguiu por esse caminho, porque Roberto chegou mesmo a gravar um disco do gênero, que foi o seu primeiro.

O Sucesso de Roberto

Voltando suas atenções ao Rock, Roberto estourou em 1963 com o disco Splish Splash. A música que deu nome ao álbum era uma versão criada justamente por Erasmo Carlos – a partir da canção original de B. Darin e J. Murray. Mas também, neste mesmo disco, a dupla assina duas composições e dão início à parceria que conhecemos: É Preciso Ser Assim e Parei na contramão, outro destaque do disco.

Determinados a cativar o público jovem, a dupla segue compondo e lançando sucessos nos anos seguintes, tais como: É Proibido Fumar, Não Quero Ver Você Triste e A Garota Do Baile. Além, é claro, de outra versão feita por Erasmo, Calhambeque, a partir da original Road Hog, de John D. Loudermilk.

Todo esse sucesso, portanto, foi determinante para Roberto ser escolhido como apresentador do programa Jovem Guarda, na TV Record, em 1965. E ele tinha ao seu lado, como protagonistas, o próprio Erasmo, que passa a ser o Tremendão, e Wanderléa, jovem cantora que também despontava na época.

Erasmo Carlos, Roberto Carlos e Wanderléa

A Jovem Guarda

Apesar das críticas que recebiam de serem alienados e do termo pejorativo “iê-iê-iê”, para categorizar suas músicas, o programa Jovem Guarda era campeão de audiência. A exposição catapultou a carreira de todos os envolvidos, principalmente a do próprio Roberto, que seria eleito o “rei” da Jovem da Guarda.

O linguajar de Erasmo e Roberto, que se refletia nas canções, influenciava e era também influenciado pelos fãs. Estes pertenciam a uma juventude urbana e moderna, o que contribuiu para a popularização de gírias como broto, brasa, bicho etc.

E com os hormônios à flor da pele da moçada, os temas juvenis das letras diziam respeito, basicamente, à paquera.  E a partir dela, duas alternativas: a euforia pela conquista ou o ressentimento por tomar um fora.

Iê-iê-iê

No cenário das músicas da dupla durante a Jovem Guarda, predominavam o baile, o cinema, a rua. Locais de circulação dos jovens. Nas atitudes, revelavam uma masculinidade frágil, muito característica da idade, que ficava evidente no desejo de ostentar um carro potente para impressionar as garotas. Ou mesmo elaborando ideias pueris como: Então juramos todos os sete. / Palavra de rapaz. / Que por garota alguma. / Não brigamos nunca mais”, ou “A Candinha gosta de falar de toda gente. / Mas as garotas gostam de me ver bem diferente.  / A Candinha fala, mas no fundo me quer bem. / E eu não vou ligar pra mexerico de ninguém.”

Por outro lado, já surgiam clássicos que demonstravam certo amadurecimento da dupla, como em Quero Que Vá Tudo Pro Inferno, Não Quero Ver Você Triste e Eu Te Amo, Te Amo, Te Amo.

Erasmo, que também emplacava hits em sua carreira como cantor, lançou algumas canções que fez com Roberto e que este não gravou, por exemplo: Festa de Arromba, seu primeiro grande sucesso; Gatinha Manhosa, que estreou com o grupo Renato e seus Blue Caps e, anos depois, voltaria às paradas com Léo Jaime, nos anos 80) e A Volta, que virou um clássico da banda Os Vips.

São também desse período, que vai de 1965 a 1968 (quando acaba a Jovem Guarda), outras músicas que, além das já citadas, obtiveram a glória: Eu Te Darei O Céu, É Meu, É Meu, É Meu e a frenética Eu Sou Terrível.

Erasmo e Roberto: Os Românticos

A partir de 1968, Erasmo e Roberto Carlos, passam, cada vez mais, a evidenciar o romantismo que já estava, em certa medida, presente em suas composições. A diferença, entretanto, é que Roberto vai se descolando do Rock para investir na Canção Romântica. Além disso, eles estão, naturalmente, amadurecendo e aprendendo a lidar melhor com os sentimentos. Algo até necessário, porque nessa primeira fase romântica da dupla há um predomínio da equação amor = dor. Podemos citar, entre outras: Se Você Pensa, As Canções Que Você Fez Pra Mim, As Curvas Da Estrada De Santos, e Sua Estupidez.

De toda forma, seguem as conquistas e/ou as desilusões amorosas. Mas a partir de agora não é mais só da paquera de que falam, é também sobre o amor conjugal e, obviamente, de sexo. Bastante sexo até, diga-se de passagem.

Além dos cenários que também vão mudando, pois agora temos a estrada, a casa, o quarto; as letras passam a deixar mais evidente o que está acontecendo, de fato, na vida real deles. Por exemplo, se estão apaixonados ou se recuperando de alguma desilusão.

Começam a surgir com frequência nas letras, temas como a nostalgia da infância, a religiosidade, o envelhecimento e o amor de amigo.

Outra música da dupla que se destacou na época foi a que fizeram especialmente para Gal Costa: Meu Nome é Gal, que ela lançou em 1969, numa interpretação magnífica.

Década de 70

Individualmente, Roberto Carlos, disco após disco, se consolidava como o maior nome da nossa música nos anos 70. Em 1974 ele inicia uma nova parceria, agora com a Rede Globo, através de um show de fim de ano, repleto de estrelas convidadas. Assistir ao especial do Rei pela televisão, se torna, praticamente, uma tradição em muitos lares.

E como não poderia ser diferente, é também nesta década que ocorre a consagração definitiva da parceria entre Erasmo e Roberto Carlos. Em uma enxurrada de êxitos, talvez tenha sido o auge da dupla em termos de qualidade.

As melhores do período são: Jesus Cristo, Todos Estão Surdos, 120… 150… 200 Km Por Hora, Detalhes, Proposta, Debaixo Dos Caracóis Dos Seus Cabelos, O Portão, É Preciso Saber Viver, Olha, Além Do Horizonte, Ilegal, Imoral Ou Engorda, Os Seus Botões, Lady Laura, Café da Manhã, Cavalgada e até mesmo a Jovem Guarda seria tema de uma música, Jovens Tardes de Domingo, em 1977.

Vida que Segue para Erasmo e Roberto

Depois dessa década brilhante, outras músicas também se eternizariam, principalmente nos anos 1980: Amante À Moda Antiga, Sentado à Beira do Caminho, Ele Está Pra Chegar, Cama e Mesa, Emoções, Fera Ferida, Caminhoneiro, Verde e Amarelo, Todas As Manhãs, Coisa Bonita, Nossa Senhora, Quero Lhe Falar Do Meu Amor, Quando A Gente Ama e Mulher de 40.

Um dos últimos trabalhos da dupla foi Furdúncio, que integrou a trilha sonora da novela Salve Jorge, em 2012.

Pra terminar, vale dizer que Erasmo e Roberto Carlos fizeram mais de 500 músicas juntos, em praticamente seis décadas de parceria. É muita coisa!

Atualmente eles mantém uma relação amistosa, mas sem grandes intimidades. A vida seguiu por rumos diferentes e já não estão ao lado um do outro  em qualquer caminhada, ou mesmo pra ajudar na saída. Ainda assim, eles serão para sempre amigos de tantos caminhos e tantas jornadas.


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One Reply to “A Parceria de Erasmo e Roberto Carlos”

  1. Maravilhoso artigo ❤️
    Eu que nunca tinha demonstrado interesse em mpb (e não me orgulho disso), estou conseguindo aprender todo dia com suas publicações
    Parabéns!

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