Nelson Motta – Sua relação com Elis Regina e Marisa Monte

Este conteúdo originalmente foi publicado em nosso canal no Youtube. Fizemos um vídeo sobre Elis Regina, e na sequência lançamos este vídeo sobre a história de Nelson Motta, o jornalista e produtor teve uma relação fundamental com a Elis e também com Marisa Monte, que será nossa próxima homenageada num vídeo de biografia. Por isso esta série se chama LINK MPB.

Você pode conferir o vídeo clicando na imagem abaixo ou seguir lendo aqui mesmo no Blog.

Nelson Motta, Elis Regina e Marisa Monta — Link MPB – Especial Nelson Motta

Nelson Motta e a Música

Nelson Motta nasceu em São Paulo, em 29/10/1944, mas ainda criança foi morar no Rio Janeiro. Foi crescendo, fazendo amizades no meio musical, sobretudo pelo impacto causado pela Bossa Nova. Muito jovem já começou a estabelecer parcerias com músicos pra compor, como, por exemplo, Dori Caymmi, filho de Dorival Caymmi. Foi com ele que venceu em 1966, a etapa nacional do 1º Festival Internacional da Canção, exibido pela TV Globo, com a música Saveiros.

E como seu negócio sempre foi escrever, também muito cedo começou a trabalhar como jornalista.

Tempos depois ele passou a atuar também como produtor musical. E aqui chegamos numa fase de sua vida que é determinante para nós: Sua relação com Elis Regina no começo dos anos 1970.

A transição dos anos 1960 para os 1970 na MPB

Com a radicalização do regime militar, depois do Ato Institucional nº 5, de 1968, muitas artistas foram mandados para o exilio, ou se exilaram por conta própria, por medidas de precaução. Então isso já estremeceu as bases da nossa música. Um outro fato determinante é que, ainda que o Tropicalismo tenha sido cortado quase que em seu nascedouro, por conta do Caetano e do Gil terem sido presos e exilados, ainda assim ele causou profundas modificações na nossa música.

Por isso, muitos artistas precisaram se renovar. Tanto em termos musicais, quanto em relação à própria imagem. Porque o tropicalismo meio que envelheceu precocemente aquela MPB de esquerda, de canções de protesto e coisa e tal. Uma das artistas que precisava se modernizar era Elis Regina. Nelson Motta já trabalhava na gravadora Philips e no início dos anos 70 produziu dois discos da Elis, o “Em Pleno Verão” de 1970 e o “Ela” de 1971.

E porque o trabalho com o Nelson Motta era fundamental?

Justamente pra apagar a imagem dela de reacionária, que ela construiu quando duelava na TV Record com o programa Jovem Guarda que disputava as atenções na emissora com o Fino da Bossa, o programa dela. Então era importante dar uma guinada modernizante e ninguém poderia cumprir essa missão melhor que Nelson Motta. Muita antenado a tudo que acontecia.

Tanto que nessa mesma época ele começou a colaborar com a Rede Globo, idealizando programas, e também passou a montar as primeiras trilhas sonoras em novelas. Olha que pioneiro. A pedido do Daniel Filho ele foi o primeiro a escolher músicas pra tais e tais personagens da novela Véu de Noiva, de 69.

Nelson Motta e Elis Regina

Mas voltando ao trabalho com a Elis, o Nelson Motta ajudou a cantora a dar uma repaginada no seu repertório, e no disco em Pleno Verão de 70, já tem músicas de Roberto e Erasmo, e dos tropicalistas Caetano Veloso e Gilberto Gil e da sensação Tim Maia.

No disco seguinte tem mais Caetano, mais Erasmo e Roberto e pasmem, até Beatles!!!! Mas claro que essa modernização não tirou a essência da Elis Regina, só ajudou ela a se permitir mais, a abrir sua mente.

O trabalho dos dois teve de ser interrompido bruscamente porque, de certa forma sobressaiu a velha máxima: “se melhorar estraga”. Segundo Nelson Motta conta em seu livro “Noites Tropicais – Solos, improvisos e memórias musicais”, o trabalho entre eles fluía muito bem, e daí se deixaram levar e tiveram um caso amoroso. Foi uma grande paixão, mas ela ainda era casada com Ronaldo Bôscoli e por isso decidiu cortar relações com Nelson.

Vida que segue

A vida seguiu. Pouco tempo depois, Nelson conheceu e se casou com a Marilia Pêra. Continuou escrevendo em jornais, colaborando com a Globo, bolando programas como o Chico & Caetano, em 1986, por exemplo. Foi também um grande agitador cultural. Empresário de casas noturnas e organizador de festivais de Rock.

Ele é um dos compositores da música de fim de ano da Globo, Hoje, é um novo dia, de um novo tempo que começou… Compôs trocentas músicas, não sabemos a quantidade exata. Talvez sua parceria mais bem sucedida seja com o Lulu Santos. Mas ele também fez música com Guilherme Arantes, com o Erasmo Carlos, com a Rita Lee, com o Ed Motta, com o Djavan, o Dori Caymmi que já citei, e muito mais gente.

Nelson Motta e Marisa Monte

No meio da década de 80, Nelson Motta foi trabalhar na Itália, pra um canal de televisão em Roma. E foi então que, numa noite qualquer, assistiu o espetáculo de uma jovem cantora brasileira chamada Marisa Monte.

Marisa Monte que já tinha iniciado sua carreira musical bem novinha, participando de musicais, estudando música na Universidade. Foi pra Roma estudar Bel canto. Marisa e Nelson Motta já se conheciam, ele sabia que ela era uma boa cantora. Mas vê-la ao vivo, o impactou bastante. Daí quando ela voltou da Itália em 1987, ele já tinha voltado ao Brasil também e passou a produzir e dirigir seus shows, a convidar gente graúda pra ver suas apresentações.

Em resumo, o nome de Marisa Monte ganhou uma enorme repercussão na imprensa, e com todo suporte mercadológico unido ao talento inigualável, não deu outra. Sucesso absoluto no primeiro disco ao vivo dela, lançado em 1989, que trazia uma única música inédita “Bem que Se Quis”.

Versão da música italiana “E Pó’ Che Fá” do cantor Pino Daniele. Versão essa, feita justamente pelo Nelson Motta, especialmente pra voz maravilhosa da Marisa Monte que estourou definitivamente depois disso.

Fica a nossa homenagem

Pra fechar, Nelson Motta, ele lançou recentemente o livro De cu pra lua – dramas, comédias e mistérios de um rapaz de sorte. Que eu ainda não li, mas tá na minha lista e muito em breve talvez eu venha aqui fazer uma resenha pra vocês. Tá legal?

Fica nossa homenagem e reverência pra esse senhor Nelson Motta, que além de sorte teve muita criatividade e força de realização na vida.