História da MPB – Música Popular Brasileira

A História da Música Popular Brasileira

Neste artigo vamos tentar contar, em linhas gerais, como foram surgindo os grandes artistas da história da música popular brasileira.

A história da MPB, como conhecemos, tem muito a ver com a Bossa Nova e uma geração imediatamente posterior de músicos muito talentosos. Porém, existe muita coisa antes e depois deste, digamos, tempo áureo de nossa música. Em resumo, a música popular brasileira é muito mais do que, somente, o que chamamos de MPB.

O Começo da História

Em primeiro lugar podemos tentar definir um marco inicial na história da música popular brasileira, destacando o ano de 1900. Foi quando a Casa Edison se estabeleceu no Brasil. Era a primeira gravadora de discos, tanto no Brasil quanto na América do Sul.

Portanto, até o final do século XIX não existia o disco. Os compositores disseminavam suas obras através da venda das partituras, para que fossem executadas em eventos ou na casa das pessoas. É importante destacar também que o grande instrumento musical da época era o piano, presente em muitas residências. O violão ainda era considerado um instrumento de segunda classe.

Os instrumentos de sopro se sobressaem nas gravações da época por conta da baixa qualidade de captação de som que existia (e aqui aproveitamos para enaltecer a figura de Pixinguinha). Até por isso também, dava-se preferência a cantores e cantoras de vozes potentes. Nota-se também que os instrumentos de percussão não eram bem captados pelos aparelhos de então.

Casa Edison e a Música Brasileira

O Surgimento do Samba

Derivado dos gêneros Lundu e do Maxixe, o primeiro samba, oficialmente gravado, foi Pelo Telefone, em 1916. Registrado oficialmente por Donga, a música na verdade é uma criação coletiva de músicos que frequentavam os encontros na casa da Tia Ciata, uma baiana que, atualmente, poderia ser chamada de “agitadora cultural”.

O fato é que o samba foi se consolidando, e isso graças ao carnaval que mobilizava os compositores por boa parte do ano, mas principalmente pelo surgimento do rádio, que chega ao Brasil no início dos anos 20. E na mesma medida em que as rádios melhoravam a aparelhagem de transmissão, também foram abrindo espaço para a publicidade, fazendo com que a audiência importasse cada vez mais.

A Era do Rádio

Até os anos 1930, o grande nome da nossa música era Sinhô. Depois disso, teremos a influência de Francisco Alves, Mario Reis, Noel Rosa, Ismael Silva, Ary Barroso, Lamartine Babo, Vicente Celestino, Dorival Caymmi, Lupicínio Rodrigues, Silvio Caldas, Orlando Silva, Ataulfo Alves, Braguinha e muitos outros.

Entre as mulheres, se no começo do século XX destacava-se Chiquinha Gonzaga, nos anos 1920 houve o reinado de Araci Cortes, e a década seguinte viu o surgimento de Carmen Miranda, verdadeiro fenômeno midiático. Tanto que, já em 1939, ela iniciaria carreira internacional, estrelando espetáculo na Broadway e chegando a Hollywood.

Nos anos 1940-50, o rádio já estava consolidado como principal meio de comunicação e entretenimento doméstico. O som está mais limpo e agradável de se ouvir, surgem os programas de auditório, onde é possível ficar cara a cara com o ídolo.

No período, o samba tradicional foi perdendo espaço para um de seus descendentes, o samba-canção. Agora também predomina o romantismo, o que favorece suspiros apaixonados por parte de fãs.

Além disso, fotos das cantoras e dos cantores do rádio ganhavam destaque nas capas de revistas, e isso colaborava para a popularização de muitos nomes, como as cantoras Dalva de Oliveira, Araci de Almeida, Linda Batista, Isaura Garcia, Emilinha Borba, Marlene, Angela Maria, Maysa, Elizeth Cardoso, Dolores Duran e Nora Ney.

Entre os homens, também vão surgindo grandes nomes, como Cauby Peixoto, Nelson Gonçalves, Dick Farney, Lúcio Alves. Além dos compositores Herivelto Martins e Antonio Maria.

É importante destacar também que em 1949, Luiz Gonzaga, levantando poeira com seu acordeão, era o maior sucesso da música brasileira. Isso popularizou o Baião e, consequentemente, o Forró e incentivou muitos jovens a tocar sanfona. Outro que, na mesma época, contribuiu para a disseminação da música nordestina foi Jackson do Pandeiro.

Bossa Nova e a Geração da TV

Mas em 1958/59 uma juventude que ouvia muito jazz e estava de saco cheio dos sambas-canções, se abriu por completo à Bossa Nova. João Gilberto apresentava uma nova forma de cantar e tocar violão. Para muitos, era mesmo como se a música no Brasil tivesse sido fundada pela Bossa Nova. Conseguiram escapar deste “esquecimento do passado”, os artistas que se vincularam ao movimento, como Newton Mendonça, Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Além da própria Maysa.

E era também como se o violão fosse o único instrumento que precisava existir. Até pela batida que João Gilberto imprimia quando tocava. Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli, Carlos Lyra, Sérgio Mendes, Sylvia Telles e Nara Leão são os principais nomes do momento, além do próprio João e, claro, Tom e Vinícius.

E a partir deles chegamos à geração seguinte. Fortemente influenciados pela Bossa Nova, mas buscando seu próprio jeito de fazer música, temos: Jorge Ben Jor, Baden Powell, Elis Regina, Edu Lobo, Wilson Simonal, Geraldo Vandré, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa, Paulinho da Viola etc.

Alguns mais, outros menos ou nada engajados politicamente, mas todos tendo de lidar com o radicalismo da época, que era reforçado pela, cada vez mais truculenta, ditadura civil-militar. Contudo, eles foram bastante beneficiados pela visibilidade provinda da televisão, pois esta ganhara de vez o coração das pessoas, substituindo o rádio. Contudo, a programação ainda “copiava” modelos que existiam nas rádios. Até por isso surgiu a ideia de festivais de música e os programas musicais era muito assistidos.

Mas também outros artistas foram surgindo, não necessariamente ligados à Bossa Nova, como Milton Nascimento e o pessoal do Clube da Esquina, Maria Bethânia, além dos veteranos do morro, “descobertos” pelos jovens artistas engajados: Zé Keti, Cartola, Clementina de Jesus e Nelson Cavaquinho.

Música Brasileira não é só Samba

Mas os bossa-novistas também precisavam dividir espaço e audiência com uma turma que os incomodava: a do Rock. Ritmo frenético que surgira na década anterior nos Estados Unidos e por isso mesmo chegou aqui simbolizando o imperialismo ianque.

Depois de Cely Campelo, surgiu um movimento pejorativamente chamado de Iê-iê-iê: a Jovem Guarda. Nada mais que um programa de televisão que, aos domingos, batia recordes de audiência e concorria com o Fino da Bossa, de Elis e Jair Rodrigues. Encabeçada por Roberto Carlos, a atração também trazia Erasmo Carlos, Wanderléa, Ronnie Von, Martinha, Wanderley Cardoso, Vanusa, entre outros.

Quem por fim chegou a uma síntese destas contradições entre engajamento/alienação, nacional/internacional, tradição/modernidade, foi a Tropicália, no final dos anos 60. Caetano, Gil, Gal, Tom Zé, Os Mutantes (Rita Lee), Rogério Duprat etc., limparam o terreno da nossa música e a década seguinte, talvez, tenha sido a de maior qualidade na história.

A Opulenta Música Popular da Década de 1970

O que temos na década 1970 é que, ao mesmo tempo em que os artistas citados acima se consolidavam, outros tantos e dos mais variados gêneros, também começavam a arrebentar. Figuras absolutamente imprescindíveis para o enriquecimento da história da música popular brasileira.

Alguns deles são: Tim Maia, Os Novos Baianos (Moraes Moreira), Secos e Molhados (Ney Matogrosso), Luiz Melodia, Jards Macalé, Zé Ramalho, Elba Ramalho, Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Fafá de Belém, Belchior, Fagner, Aldir Blanc, João Bosco, Gonzaguinha, Djavan, Raul Seixas, Ivan Lins, Guilherme Arantes, Martinho da Vila, Alcione, Clara Nunes, João Nogueira, Beth Carvalho. E até mesmo Adoniran Barbosa, que já compunha há décadas e viu seus sambas fazerem sucesso com os Demônios da Garoa, mas que ganhou imensa repercussão cantando suas músicas já no fim da vida.

Rock Br. e Muito Mais

Os anos 1980 trazem o rock de volta aos holofotes, depois de um sucesso estrondoso da Blitz, vão surgindo muitas outras bandas, Brasil afora: Paralamas do Sucesso, Kid Abelha, Titãs (Nando Reis, Arnaldo Antunes), Ira, Barão Vermelho (Cazuza), RPM, Capital Inicial, Engenheiros do Hawaii e Legião Urbana. Além da banda pop Roupa Nova. E também muitos nomes que se descolam no cenário, como Lulu Santos, Lobão, Marina Lima, Sandra de Sá, Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção.

Mas também são tempos de renovação na MPB. Se Simone e Joanna foram as grandes cantoras da geração anos 80, na transição para a década seguinte despontam vozes extraordinárias: Marisa Monte, Adriana Calcanhotto e Cássia Eller.

Os Contrastes dos Anos 1990

Isso sem falar em Daniela Mercury e o dançante Axé Music, que nos anos 1990 já conhecia Chiclete com Banana, mas ainda lançaria uma Ivete Sangalo, um É o Tchan, uma Timbalada (Carlinhos Brown) e tantos outros grupos que fizeram muito mais sucesso do que a lambada fizera antes, e que o calipso faria depois.

Por falar em sucesso, aproveitamos pra lembrar do pagode. Filiado ao samba e criado por artistas de poucos recursos no alvorecer dos anos 80. Do grupo Fundo de Quintal saíram Jorge Aragão, Almir Guineto e Arlindo Cruz, mas, talvez, o grande nome do gênero seja mesmo Zeca Pagodinho.

Nos anos 90 o pagode alcançou o topo da paradas, com Raça Negra, Só pra Contrariar, Negritude Jr., Art Popular, Revelação, entre outros. Entretanto, foi perdendo um pouco da influência com o tempo, apesar de grandes nomes, como Thiaguinho e Péricles, por exemplo, ambos egressos do Exaltasamba.

Mas é também partir dessa época que explodem o Mangue Beat de Chico Science e Nação Zumbi; e vão surgindo as bandas Pato Fu, Raimundos, Skank e até mesmo os Mamonas Assassinas e Sandy & Junior. Depois ainda viriam Pitty, Charlie Brown Jr., Los Hermanos, Jota Quest… Todos bastante influenciados pela MTV, o canal de televisão que se dedicava exibir videoclipes e que surgiu justamente no início do anos 1990, tendo sua própria história misturada à de muitos artistas.

Sertanejo – O atual campeão

Apesar do Funk, dito, ostentação, de Anitta, Ludmilla e muitos MCs; dos anos 2000 pra cá, quem impera mesmo é o Sertanejo. Muitas e muitas duplas seguem uma tradição musical que vem, no mínimo, desde Tonico e Tinoco, que surgiram nos anos 30, passando por Milionário & José Rico, Sérgio Reis e Chitãozinho & Xororó.

Depois principalmente por Leandro & Leonardo e Zezé di Camargo & Luciano, mas também Daniel e Bruno & Marrone e muitos outros sertanejos românticos que abriram espaço para a chamada “quarta era” da música sertaneja: a fase Universitária. Esta que atualmente conta com Gusttavo Lima, Luan Santana, Marilia Mendonça e Jorge & Mateus, por exemplo, liderando as listas das mais tocadas.

O sertanejo, há anos, flerta bastante com o brega, que sempre teve imenso apelo popular. Vide casos de Reginaldo Rossi, Odair José, Waldick Soriano, Amado Batista e Nelson Ned. Campeões de vendas em diferentes épocas. Gênero que conta com Wesley Safadão como seu maior representante, atualmente.

E além de tudo isso, ainda há o Rap e o Hip Hop brasileiros, com raízes nos anos 1980, que conta com nomes históricos como Thaíde, Racionais Mc’s, Marcelo D2, Gabriel o Pensador. E já faz alguns anos também com Criolo,  Emicida e muitos outros.

Pra fechar a lista da Música Brasileira

Pra fechar, saudamos os grandes ícones da MPB que ainda estão bastante lúcidos e ativos, apesar da ação do tempo em seus corpos e vozes. E também vale destacar nomes que ainda não foram citados, como o de Lenine, Otto, Zeca Baleiro, Chico César, Ana Carolina, Seu Jorge, Diogo Nogueira, Teresa Cristina, Maria Rita, Pedro Mariano, Maria Gadú, Vanessa da Mata, Mar’tnália etc. Alguns destes, figurinhas repetidas na rádio Nova Brasil FM, que no século 21 é quem mais difunde a “moderna MPB”.

Além disso, reverenciamos também a cantora Elza Soares. Sua carreira vem lá dos anos 50, mas ganhou novo fôlego e significado nos últimos tempos.

Tempos de representatividade, que faz despontar nomes como de uma Pabllo Vittar. E novos tempos virão e ainda há muito para ouvir!

Perdoe nossas falhas!

Enfim, há muitos nomes que foram omitidos nesta tentativa de contar, de modo brevíssimo, toda a história da música popular brasileira. Afinal, é mais de um século de trajetória com milhares de artistas.

Nossa intenção, em suma, era destacar alguns nomes e momentos fundamentais, sabendo que esqueceríamos muita gente. Ressaltando que nosso desejo no Canto da MPB é aprofundar temas em outros artigos.

De antemão, pedimos desculpas por qualquer esquecimento. Por isso, deixe seu comentário abaixo caso você julgue que alguém ficou de fora e não deveria.


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